terça-feira, 28 de julho de 2009

Lena

Ei, alma serena!
Hei de excessivamente adjetivá-la:
Maluca e multicolorida fêmea
Das feições brandas e voz suave,
Tens o rosto de lenha!

Observo em tal madeira
Harpa transgressiva.
Fonte musical de brado protestante
Que aventura-se através das paisagens elevadas
Tal pardal subversivo

Hei de encontrar tua essência vampiresca
Teu trejeito borboleta
Cara Milena

sábado, 25 de julho de 2009

.alastrar-te-ei.

Morena do corpo delgado
.alastrar-te-ei.
Árvore monóica do século passado
.alastrar-te-ei.
Lunática do nome estilizado
.alastrar-te-ei.

Nogueira das chamas eretas
Fogueira das flores esbeltas
Eis meu desatino loquaz,
Meu desvario de amar
Que encontra paz
No compulsão de qualificar

Ovo
Lacto
VegetAriana
Regida por marte,
Dá-me um abraço
Outro afago

Que teus dois braços
Resultem no toque suave
Do beijo-labareda
Por nossos lábios semeado

(com) Partilhado

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Enterro No Pátio



Suado e fatigado
Cheirava à terra
Sentou a dois palmos de distância
E permaneceu calado
Estático

Escorria pesar dos olhos verdes
Lágrimas sujas de terra
Que percorriam a face úmida
Misturavam-se com suor e sujeira
Formando sopas orgânicas

Sopas que transbordavam vida, dor
Mas sequer uma gota de júbilo
Não agora, não nessa hora
Nesse instante em que nem o sol poente ousa retornar

Aproximou-se fungando
Envolveu-me em seus braços
Quase sufocando-me
Chorava desvairado

Senti seu corpo trêmulo
Colado ao meu
Assim como há vinte e sete anos atrás
Nos confins do sereno, quente, materno ventre

Rasga-me o peito
A simples lembrança do leito
A cama de odores, as maternas e alvas flores

Cama, agora vazia.
Onde um dia
Doce mulher repousou.

Da Repetição - Poesia n° 1



Sentado em rocha fria a ponderar melancolias
Pus-me ao vento forte refletir minha vida

A mão não pára enquanto a melodia não cessa
A mesma melodia que ilude
Que imudece e apaixona

O sangue me corre,
Mas quando não corre
Morre

Cose um leito de fogo
Fogo de lábios rubros
São túmulos imaturos

Rimas indecentes,
Rimas sem um pente
Descabeladas rimas,
Zombeteiras personificadoras
De escarninho

Deleitem-se com minhas vidas
Morem em meu corpo áspero
Alma frágil

Gotas de Sal



Brotaram-me gotas de sal na face já descolorada
Resvalam consigo dor, em conjunto amor

É apenas euforia dissimulada ou constante agonia?
Perco-me e sinto falta de um motivo para assim gotas derramar
Prossigo, tudo para assim minha dor estravazar, quiçá
Amenizar

Nada mais que um monstro a me habitar
Pergunto-lhe: Terás prazer em alimentar-se de meus pesares?
O rugido fomenta minha dúvida libertando-o

Nenhuma sina, mais o perturbará
Nenhuma gota, de mim resvalará

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Barata Fúnebre

Hoje pequei
Não pense que chorei
Vendo que na agonia do ser
Uma vida tirei

Repousada em suave janela,
Tornei seu refúgio
Mortífera panela

Horrorizada, agora sufocada,
Expirou.

Ainda posso ver seu corpo contorcido
Deixar a vida com dor lânguida
No fim de sua existência cândida