sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Parabéns !



Ela pensa que eu esqueci. Ah! Mas ela vai ver como eu não esqueci! Meu anjo da guarda é mais forte que São Jorge e o arcanjo Miguel juntos!!

Ontem, pelo messenger, ela me perguntou se podíamos ir no Satolep - um barzinho/pub bem aconchegante - e eu, bocaberta, disse que não poderia. Adicionando que poderia no Domingo, talvez. E o pior, ainda fiquei de nariz empinado por ela não ter continuado a conversa, ter dito apenas que no Domingo não dava. HELLO!!!!! É o aniversário delaaaaa!!!! Toc, Toc, Alguém aí? Será que esse EU pode desinflar um pouquinho?

LÍVIA AMARANTE GALLO, FELIZ ANIVERSÁRIO !




- Já posso abrir a champanhe ????

- Como assim não vai beber ?! Lívia, é teu aniversário !!

- Só um copo não dá nem pra ficar alegre, filha... Bebe meia garrafa, vamos. EMBRIAGUE-SE como Mallarmé !!

- AH! Sim! Antes eu quero fazer uma retrospectiva, daquelas bem melosas e bregas que as famílias fazem na parede do salão de festas, sabe?


Bueno,


* Eu e Lívia nos conhecemos através de Carolina, a Leonina. Se não me engano, a primeira vez que nos vimos foi na Praça 20 de Setembro, da Biblioteca Pública. Ela usava uma blusa branca cheia de rendas e bastante leve, Branca de Neve. As pernas cobertas pela calça jeans eram compriiidas e delgadas, o pescoço longo envolto por um colar dourado. Porém o que mais me chamou atenção foram os olhos, pro-fundos, com cílios imensos saindo deles até as sombrancelhas.





* Foi começar a escrever cartas de amor ridículas, fazer demorados presentes artesanais e começar a chamá-la de Tulipa que tive a certeza: Apaixonei-me. Colhi a única tulipa amarela dentre o Jardim das Tulipas Vermelhas.




* Mais tarde conheci sua prima, Taiz Gallo, a Virgem. Menina quieta, bonita e tímida que me adorava dar beliscões. Isso doía. O que a Lívia fazia... Ardia, queimava, inflamava, amputava. Taiz sempre disse: " -Batom vermelho é para gente grande. Usa o marrom, Lívia."




* O detalhe é que a Lívia sempre foi mais alta do que a Taiz, podia dar uma porrada na cara dela se quisesse. Rsrsrsrsrsrs, Aquário e Virgem não se dão exatamente bem, exceto se o primeiro tiver o ascendente no segundo. Aí sim. Loucura equilibrada total. Nem mesmo uma minhoca duvidaria disso. Falando em minhocas, talvez não saibam, mas... A Lívia já foi uma:



Me diz se não é a coisa mais fofolete que tu já viu?
Aposto que ela vai surtar quando ver esta foto. Já posso até escutar: - Guilhéééééérme! Tira essa fooooooto!


* Fechou. A turma estava completa: Tulipa, Orquídea, Melro e Girassol. Aí começou a bagunça: noitadas com películas cult - desde Persona até Monólogos da Vagina -; macarrão e espaguete com soja, sorvete e chocolate; violões e violinos ao som das canções dos Beatles; piadas, baixarias, brigas bobas, ciúmes, mentiras sinceras, confissões de uma hora e meia:

- Sou gay !
- Sou BV !
- Já tentei me matar !
- Já dei !

No mais, nos divertíamos. Nos amávamos!




* Com o tempo fui percebendo que minha paixão era digna de pena, paixão platônica, principalmente porque ela só via nós como amigos. E assim ficamos! Graças a deus. E graças a deus eu era ateu! A Lívia não, sempre acreditou em uma entidade superior. Devia gostar do Espiritismo. E eu também. Desde cedo encontramos a similaridade nos gostos, eram livros, discos e filmes venerados por nós. E sempre que um conhecesse um novo, dizia logo pro outro cheio de empolgação e trejeitos quase afetados. Hummm, que delícia lembrar.





* Pois bem, depois de levar um fora segui vivendo a vida. Conheci uma morena na Igreja do Relógio, em meio ao belíssimo Concerto Para Violoncelos, e foi justamente com os dedos insistentes de Lívia que olhei para ela. Lívia disse: "-Guiga, aquela menina não pára de olhar pra ti." O nome era Tuanny e ela tinha os olhos encharcados pelo som dos cellos. Acabamos tendo um caso, ao qual Lívia foi categórica ao me enviar um e-mail e dizer: " Gui! Quero que tu me apresente tua nova namorada, vamos ver se eu aprovo. E ai de ti se começares a negar passeios comigo ou deixar de me ligar, ouviu bem? Beijos, meu girassol! Te amo muito!" Foram três meses lindos com Tuanny, eu levava ela ao teatro e ela me levava a shows de música. Porém, Tuta me lembrava muito à minha própria mãe (também Áries), o que foi somado com uma latente descoberta ocasionando A MERDA, de Picasso.

(...)
O lápis negro
Conduzido pela lágrima
Quente
Espalhado na face borrada





* Se Lívia me ajudou? CLARO QUE ME AJUDOU, do contrário não se chamaria Lívia Amarante Gallo! Ela e a mãe dela, uma ariana feita de ouro: Olenka. Passei algumas noites na cozinha, bebendo vinho com essa mulher admirável, forte e de nome russo. Mãe e filha, essa família, me presentearam com livros do Mário Quintana. Adorei, porém a paixão delas era - e é! - Caio Fernando Abreu. Ora, Lívia passava horas me contando a respeito dos livros do virginiano com ascendente em Libra. Talvez por isso gostasse tanto, visse na própria vida tanto em comum.

A Tulipa me fez voltar a sorrir, colocar o nariz de borracha, a meia calça laranja, a blusa branca e a faixa com letras garrafais: DELGADO.
Por isso, obrigado! Querida da da da da da da da da !





* Mas é claro que a Lívia não teve que segurar o coração partido aqui sozinha. Câncer ajudou, deu uma mão. Aliás, duas. Três. Cinco. Vinte e Quatro. Provei o amor! Isso, sempre dividindo minhas experiências com a garota de olhos castanho claros, pele de pêssego, sardas no rosto e de uma beleza que...





* Andrei Moura veio lhe desejar algo, mas antes eu gostaria de falar mais umas coisinhas, ok? Segura, Andrei! Nós vamoxxx baterrrr... PALMAS PRA LÍVIA!





* Acho que o que eu quero dizer é. . . Posso falar besteira, ser desligado-leviano, aproveitador-manipulador, exagerado, incompreensível, egoísta. . .





* Te envergonhar...



* Em dose dupla!





* MAS o certo é que eu penso em ti com o maior carinho e te amo toda vez em que...

Como mousse de maracujá:




Espero a tua chegada:




Sacudimos o esqueleto:




Tu fazes arte:







Escutamos um ao outro:




Tu esvoaças a saia e a meia arrastão:




E até mesmo quando digo que o teu sorriso é forçado! Ou que tu tem as mãos da Uma Thurman!





* Lívia! Tá caindo a maior chuvarada lá fora, uma bênção depois de tanto calor. O que me faz lembrar uma cantora muito ouvida por nós: Maria Bethânia.

Sol vermelho é bonito de se ver
Lua nova no alto que beleza
Céu de azul bem limpinho é natureza
Em visão que tem muito de prazer

Mas o lindo pra mim é céu cinzento
Com clarão entoando seu refrão
Prenuncio que vem trazendo alento
Das chegadas das chuvas no sertão

Ver a terra rachada amolecendo
A terra antes pobre enriquecendo
O milho pro céu apontando
O feijão pelo chão enramando
E depois pela safra que alegria
Ver o povo todinho num vulcão
A negrada caindo na folia
Esquecendo das mágoas sem lundu

Belo é o Recife pegando fogo
Na pisada do maracatu


- Festa, de Gonzaguinha.





* Esse presente está começando a ficar grande demais, não acha? Está começando a ficar muito ...E O Vento Levou, muito Titanic, então é melhor que eu chame os convidados !

1° - Eu e Andrei lhe desejamos um 28 de Janeiro inesquecível. Comporte-se assim como a natureza que quando muito aquecida, solta. Desamarre teus amores, admita tuas paixões, comunique teus desejos, faça aquilo que tem vontade sem guardar-guardar-guardar, diga aquilo que tem vontade e acha certo tendo a mais delicada cautela para não cair no precipício das verdades suicidas, do sincericídio. Não se importe com a opinião dos outros, ainda que custe. E COMO CUSTA! Custa muito. Vai é ser feliz, Líviaaaaaaaa!






* Porque do lado da natureza-beleza, nada de tristeza! É a frase da nossa amizade.




2° - O NúcléééO de Pâ Pâ Pâlhasssssssoss da Cumpnia Circo-lar tem o prã prãzêêêrrrrr de lhe deeeEEEeeeEEEZejarrrrr um FFFFFFFLIZ ANVRSÁRIO !




* 3° - Agora uma galera blazérrima, de última, chupando pirulito ao som de Micheal Jackson na Casa do Lado. São ele e elas:

- Nina, the scorpion girl

- Andrei, the dream man

AND

- Lílian, our holy mother








* 4° - Pensou que a mãe ia esquecer? Ham, Áries não esquece NADA NUNCA, Aquário. Está aí a Dona Olenka-Maysa das madeixas de fogo, desejando-lhe toda a bondade e coragem que uma Mãe pode desejar para uma filha depois de meses carregando-a no ventre. Fiquei sabendo que até confidências para bruxinhas ornamentais ela faz! É verdade??!








5° - SIM!!! Ela veio diretamente da Espanha para te dizer: Cumpleaños Feliz! Taiz Gallo também disse que logo estará de volta para lhe apertar contra os braços.








* 6° - Só porque ela é uma atriz norueguesa e famosa não significa que tenha esquecido desse importante dia. Liv Ullmann diz: Grattis på födelsedagen!









* Livinha, levei quase a tarde inteira fazendo teu presente e não me sinto com um pingo de arrependimento. O meu cansaço é simples consequencia da imensa admiração e do carinho que meu coração nutre pelo teu.




O AR, esse elemento natural que é nossa mais genuína conexão.



* Eu já me separei de amigos e amigas, mas de ti eu não me separo MESMO!
Precisou-Chamou, é assim que funciona.




http://www.youtube.com/watch?v=zkKTFa52x6I


Beijo do gui!

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

26 Tórrido de Janeiro

Comigo na cama mirando para o ventilador que ele tentou tentou tentou consertar. Porém copo estilhaçado não pode retornar a ser o que um dia foi.

_____________A não_______________________
_____________ser que_____________________

Deborah Finocchiaro nos ensine alguma coisa simples e esperançosa através de Mário Quintana.

Mário Quintana

A peça Sobre Anjos e Grilos fez brotar uma paixão avassaladora pelos versos singelos de Mário Quintana em meu peito aberto. Depois de um anjo e alguns grilos, pude visualizar aspectos intrincados de minha vida, dos quais tenho difícil acesso. Ou melhor, tenho difícil clareza; acesso tenho até demais. Falo a respeito de comportamentos muito atraentes, seduzidos em busca do gozo. Não do prazer, que fique claro, porque no gozo há pouco prazer e muita dor. O primeiro passo para desgrenhar-se desse lodo-todo é o comportamento posto na mesa, estudado a frio. Não apenas o nosso, mas também o do outro.

O que eu quero dizer é... Me dá uma ajudinha, Mário?

Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...





"...os Anjos do Senhor
estuprando as mais belas
filhas dos mortais...
Deles, nascem os poetas.
Não todos... Os legítimos
espúrios:
um Rimbaud, um Pöe, um
Cruz e Souza...
(Rege-os, misteriosamente,
o décimo-terceiro signo do
Zodíaco.)"

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

um suspiro carregado




Fui incapaz de resistir à carga dramática do piano em Babel (Alejandro G. Iñárritu, 2006), próximo ao fim desse intenso longa metragem. No desfecho - em que a teia já está feita - todos já estão entrelaçados e com os destinos eternamente cruzados, marcados, definidos. A intervenção alheia pode e faz diferença. Cada ação coincide com uma reação livre de qualquer previsão, uma reação genuína, uma reação capaz de.

A música de despedida do filme chama-se Charge of the Herd, e eu me deixei levar porque não consegui reprimir um suspiro diante de tal exemplar combinação de sons, que ia do grave ao agudo em uma transição perfeita para os ouvidos E libertadora para os olhos da alma.

Comprei uma tela em Buenos Aires chamada Os Olhos da Alma. O surrealismo remete à Dalí: mulher nua, metade do corpo feito de madeira, seios fartos e milhares olhos de peixe. Triste é não saber o nome do pintor! E pior é que o vendedor argentino disse. Um italiano, isso eu sei.

Janeiro nasceu em mim mascarado. Revelou as curvas suaves da Tranquilidade para esconder as curvas acentuadas e apavorantes da Turbulência.

T

T

T e s t ando

T e stando

Testando, alguém me ouve?

A segunda semana foi de engajamento para o vestibular: estudar, estudar, estudar. E assim meu padrão cresceu vertiginoso, formou músculos e desenvoltura. Alguém vai encarar? Tudo bem, podem tentar. Mas quem tentar sairá machucado, o meu padrão é forte e escorregadio. Não pretende parar.

O meu padrão é fugirescapar








Na terceira semana a Turbulência mostrou o fio das garras e eu sentisangrei. O nosso amor foi apunhalado, a minha casa é uma mina pronta a explodir e explodiu, já aos onze anos tentam tirar a própria vida, enquanto que aos quarenta ainda são adolescentes, não suportam a verdade dita com fúriadesaforo reagindo então também com fúria, aos socos

Siiiiiim, porque
O Homem, que nesta terra miserável
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera!

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.


!BUM!

nosso carro amassou

nossa união se desfez

nosso carinho morreu terminou

mas um dia quem sabe um dia

nossa casa desbotou e agora é Torre de Babel

Ninguém se entende, ninguém se escuta, ninguém se because we talk in english portuguese japanese french italian spanish deutsch swedish polish chinese and even GRAMELOT ! All right??????????

Limpeza comunicativa
Irmandade
Manutenção de cortes ou furos profundos
Identificação e rompimento das negligências
Tolerâncias
Evasões conscientizadas
Saborizar pertences espirituais e materiais construídos(,) com amor e gratidão


Eles ergueram a torre de Babel
para escalar o céu.
Mas Deus não estava lá!
Estava ali mesmo, entre eles,
ajudando a construir a torre.
Mario Quintana


The Confusion Of Tongues

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

É possível navegar dentro de automóveis quando chove em São Leopoldo

É possível jogar água nos outros carros

É possível dizer: Geeeente, quanta água !

É possível rir e dizer: Ainda estou no pântano, me espera !

É possível até o inesperado

É pos... - Olha a moto !

BUM !

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Cheguei no trabalho sentindo os cacos de vidro dentro de minhas meias, fui recepcionado pelas baratas.

Mulholland Drive

Daqui a duas horas estarei compartilhando minha semana com ela, não vejo a hora. Há semanas em que pouco de marcante ou preocupante acontece, mas há outras que... Parecem mais o período de uma vida inteira.

Ontem saí do trabalho debaixo da chuva. Me comportei da mesma forma que a natureza superaquecida. De tanto ardor, desabei. Chovi água e fumaça, lágrima e farpa. Vi meu corpo molhar, os pés cheios de barro, areia, grama. Só eu andava na Imperatriz
Leopoldina deserta, eu e os carros apressados.[Escutava Maysa]. Estava tão vivo e tão triste. Não parava de pensar: talvez ele me encontre. Disse que ia dar uma volta, quem sabe resolveu caminhar pela chuva como eu, amenizar as feridas na água corrente. Ou quem sabe algum conhecido estacione o carro me oferecendo carona. E se assim um
estranho fizer, não darei as costas. "Sempre dependi da bondade de estranhos". A chuva parou quando minhas pernas começaram a latejar, não posso esquecer de alongar ao chegar em casa.

Fechei minha noite da forma mais enigmática, louca e desinteressante: Cidade dos Sonhos, de David Lynch. Difícil esquecer a cena do beijo entre as mulheres, a qual ocasiona fúria-ciúme-desepero na terceira mulher, Naomi Watts. Parei o filme diversas vezes, fingindo que a intenção era beber um copo d'água, quando na verdade passava pelo meu quarto e conferia o celular, sempre esperando uma mensagem, uma chamada perdida, algum contato. Reuni todas as forças para não mostrar minha inquietação, uma simples chamada do meu celular podia quebrar minha promessa.

Às duas horas veio a mensagem. Eu não percebi, dormia profundo. Ele não está bem.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Dormir não era vantagem alguma.

Se eu não estava entregue à insônia,
estava certamente entregue ao domínio mental.
Se bem que o primeiro caso só existe quando
há mente irrequieta.

Portanto estávamos em situações similares.
Eu mergulhado em sonhos intrincados, oceano
de símbolos. Ele envolto em pensamentos ásperos, trapaceiros.
Um ou mais episódios cristalizados, rijos de acesso.
Mancha encardida, promessa dita. Ultimato feito.

Fins de madrugadas tórridas fazem meu corpo maltratado
por tanta atividade mental - tanta busca à soluções,
tantas mágoas, tantas hipóteses levantadas, tantas
reminiscências malditas, tanto vapor e veneno, tanta
cólica, retórica, falsa vitória - procurar alívio em todo
e qualquer tipo de libertação.

Sob o efeito da água;

da droga;

da escrita;

do desabafo;

da verve;

da ejaculação.

Quisera eu nunca mais uma palavra exprimir. Emudecer-me tal como Liv Ullmann em Persona. Acontece que esta... Também é uma espécie de fuga.



Se me pedissem, quando cheguei aos 50, que fizesse um balanço da minha vida, diria que consegui um bom nível de realização, pessoal e profissional. Mais do que isso, diria "Prefiro não aprofundar".

Não que tenha medo de desvendar algum lado negro da minha personalidade. Mas sinto que, se a coisa funciona, o melhor é deixar como está.

‎- De que mal achas que ela sofre ?

- Ela está se iludindo.

Another Woman, 1988, Woody Allen

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

árvores tombadas



Durante a minha caminhada,

foram as árvores colossais dilaceradas

que estimulavam meu íntimo a também sentir-se dilacerado.

Estímulo não é influência.

O que me ocorreu ia ocorrer antes ou depois, independente.

QUE SE FODA,

disse meu corpo.

Caminharei com minhas feridas expostas

abertas

mais que isso

ESCANCARADAS

OOOOOORA, eu queria era soltar meu choro inteiro

como o chafariz que jorra seus pingos no lago negro

esverdeado restrito sombreado

Contudo, segurava.
Segurava como seguravam os meninos seu afeto.
Ou só sexo.

Limites

é a tontura
da leitura
que causa
imensa
vertigem

intelecto
sobrecarregado
de informações
do passado

as imagens
são o pior
nossa cabeça
não presta

me encho
de letras
até entupir
de ciúme
repulsa
dor na coluna

estou engordando
porque parei
de fumar

estou machucando
a você
porque congelei
meus limites

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

cadê a minha flauta?



Voltei o rosto para o lado e vi: vestido branco, liso, e com flores camufladas na imensidão pálida. O pescoço envolto por pérolas de bijuteria. Às vezes não reconheço minha própria irmã. Na noite de Natal, por exemplo, avistei uma figura de costas e me perguntei: quem é essa mulher? Foi somente quando escutei a voz tão familiar que percebi, era minha irmã ! Minha irmã de 11 anos ! De salto, maquiagem e óculos escuros !

Ela saiu logo do meu quarto, não estou certo do que veio perguntar - geralmente é para solucionar uma pergunta ou receber uma opinião que a pequena bate à minha porta - mas lembro que elogiei seu vestido e sorri. Ah sim! Ela havia perguntado se um desenho de gatos coloridos era um bom presente de Natal atrasado. Deve ser o quarto desenho que ela me mostra essa semana, é muito dedicada. Mais que isso, seus desenhos transbordam carinho e afeição pelos outros. Receber um desenho da Milena e receber uma parte do coraçãozinho dela. Batata!

Desci pra buscar água e, ao voltar, escutei música escapando pelo assoalho do quarto dela. Um quarto com paredes rosas, porém bonecas empoeiradas. Bonecas e carrinhos. Abri a porta, então foi e vez dela de girar o rosto e sustentar uma expressão de espera, de "sim?". Eu disse que a trilha sonora de Kill Bill é realmente fantástica, ao que ela respondeu: " -Poisé, eu tava tentando tirar as notinhas dessa música em minha flauta. Falando nisso, cadê minha flauta doce?" Librianas... Eu pensei. Ela continuou: " -Ia ser o meu presente no aniversário do pai, mas não deu tempo porque em Maio ele foi".

Prometi baixar a trilha do segundo volume do filme pra ela.